A MINHA VERSÃO EM PRETO E BRANCO, Por Milene Mizuta

Eu nasci num sábado de carnaval, carrego em mim confete, tamborim, risos, suor e ritmo.

Carrego o carnaval inteiro, com ele o fim de noite da rua molhada, da solidão dos desatinados, do palhaço que se perdeu.

Tem um breu em mim, uma fração que chora, uma parcela índigo, uma quarta de cinzas.

Esse bocado, tão particular é o chão que eu planto meu reinado, é nele que eu sustento meus afetos, construo meus amores, faço nascer minhas criações.

Se você não conhece o meu desvario, minha lama, meu fundo cavado, você não me conhece, se não me viu chorar, dar de comer a que não tem, urrar de dor, jogar-me a insania, enlouquecer em ódio ao sistema, você não me conhece.

É nesse escuro do mundo que eu sou o mais particular de mim, no meu ódio, no meu medo, no meu mais profundo amor que em profusão de queima e combustão faz nascer minha jóia.

Desequilíbrio, me define muito mais que sensatez, e se te posso ser sincera, não recomendo aprofundar-se em mim, eu não valho a pena;

pena nenhuma.

Desfruta da minha superfície ensolarada, samba no meu molejo, porque o andar inferior da minha existência é tão mais verdadeiro que você certamente se horrorizaria do quanto o ser humano pode ser errado, faltante, imperfeito, incompleto, e com isso a única coisa que você teria, com certeza indubitável, é a liberdade de ser o que você é,

Liberdade, disso é feita a substância desse lugar preto e branco em mim, o chão da minha sementeira, portanto só pisa nele quem tem fé.

A Rafa, chegou num dia que eu estava doente e disse: agora você vai ser minha modelo.

Quando uma mulher te fotografa, ela te revela.

Essa Milene, só outra mulher seria capaz de encontrar, porque só quem faz parte da matilha, conhece as suas.

No meu máximo da vulnerabilidade ela desvela o maior da minha beleza.

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