Quando eu quis que minha mãe morresse, e ela morreu.
Eram fios e alarmes que se amontoavam sobre minha mãe que respirava sofrido num tubo em seu rosto, a mão que pendia ao lado da cama, a luz branca da sala sem janela.
Eu, sozinha, que via a vida se esvaindo, e minha infância até adulta em síntese sobre a cama em agonia, sem prosa nem poesia, a morte chegando.
Por Deus que peguei aquela mão e enquanto por dentro meu peito desagregava e tudo em mim era víscera, dor e caos, eu rezei, agradeci, prometi seguimento, apreciei e me despedi até quanto o meu desespero foi capaz de suportar.
Joguei os ombros pra trás, pisei firme, olhei nos olhos da médica e disse: “- Seda tudo e já! Não faz mais nada, quero que ela morra.”
Era dizer adeus a minha gênese, era um “eu sei que vou te amar” tácito, era misericórdia.
Foi um único grito sozinha no carro. Um só, rasguei a roupa, a pele, sangrei.