POSICIONAMENTO, Por Walkiria Tércia

Tenho reparado como de tempos em tempos surgem caixinhas novas para definirem o que é ser feliz, ter sucesso, o que é ser, mas me causa estranheza que a escolha pela autenticidade parece sempre errada, equivocada, daí me vem uma frase que tenho ouvido: para vender na internet não dá pra falar de política, não pode ser feminista, não dá pra ter posicionamento!

E quando vasculho minhas lembranças me recordo de nãos que recebi ao longo da vida: quando queria jogar bolinha de gude ou jogar bola de noite na rua, ou pular muros, ou falar palavrão, ou empinar pipa, uma galeria de nãos com a mesma justificativa: porque você é menina!

Me recordo também de um texto que li numa aula de inglês onde narrava uma cena de racismo num trem nos Estados Unidos, na sexta série e fiquei indignada.

Já no ensino médio, no magistério, quando a escola recebeu uma diretora autoritária e antidemocrática, lembro da professora de história gritando aos berros pelo corredor o nome de alunas, alunes e alunos que se posicionavam para apoiar um movimento que ela classificou como libertário e meu nome estava em sua lista.

Paulo Freire, dizia que a leitura do mundo antecede a leitura da palavra, o posicionar-se não vem com alguma doutrinação, mas com um olhar mais humano e amoroso sobre o mundo, onde eu sinto pelas mazelas, injustiças e desigualdades, a teoria só prepara meu discurso.

O autoconhecimento me tira do lugar de levantar guerras, mas me faz ter certeza da luta, embasada pelo diálogo e o respeito, mas jamais pela resignação.

Posicionar-me é o mínimo que eu posso fazer para que outrem perceba o que lhe limita e impede de ser a sua melhor versão.

Para que todas, todes e todos possam ser.

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