RACISMO AMBIENTAL: MULHERES, Por Renata Zamborim

Mulheres pretas pobres são as mais impactadas por riscos ambientais. Em tempos de COP 27, com emergência ao combate à crise climática, atenção! Não tratemos lutas ambientais, sociais e econômicas como que separadas! Ameaças ambientais estão fortemente ligadas à extorsão da natureza e seus diversos corpos (rios, terras, florestas, ar) pelo patricapitalismo. Desigualdades ambientais são um correlato de desigualdades sociais. No Brasil, atravessado por profundas desigualdades e pelo racismo estrutural, riscos ambientais são sentidos de forma desproporcional pela população preta, indígena, quilombola, ribeirinha, imigrante. Políticas públicas não consideram oficialmente que é esta população que mais sofre esses impactos. O racismo ambiental, termo de 1981, dado pelo líder afro-americano de direitos civis Benjamin Franklin Chavis Jr., denuncia o modo desigual como crises ambientais afetam mais grupos já vulnerabilizados. O racismo ambiental no Brasil está associado à invasão, desmatamento, exploração de minério e petróleo, contaminação por metais pesados, agrotóxicos, alagamentos, deslizes de terra, falta de saneamento, despejo de resíduos tóxicos. As comunidades mencionadas ocupam áreas de maior ocorrência desses impactos, e o recorte de gênero aí se sobrepõe: a maior parte dessa população é pobre, negra - e mulheres que chefiam família são a maior fatia dela. Na base dessa pirâmide social bizarra, essas mulheres têm toda responsabilidade pelo trabalho reprodutivo, têm menor poder aquisitivo, menor controle e acesso a recursos vitais como água, energia e moradia. E são exatamente essas mulheres que, em tragédias ambientais, sentem o chamado para gerir a crise e desenvolver alternativas frente à fome, à perda da moradia, às doenças e à necessidade de manter o equilíbrio emocional das suas famílias, se organizando e se apoiando. O grito que ecoa do racismo ambiental tem partido sobretudo dessas mulheres vitimadas por ele. Mulheres de movimentos pretos, quilombolas e indígenas no Brasil têm feito denúncias para que o debate sobre racismo ambiental tenha abordagem interseccional, já que os corpos mais afetados têm gênero, cor, classe e endereço de território.

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