O BRILHO NOS OLHOS, Por Walkiria Tércia

Sempre reparo nas descobertas das crianças o quanto brilham os olhinhos curiosos e encantados, seja com um novo inseto nunca dantes visto, ou frente ao mar e sua imensidão num dia de sol, ao pegar um filhotinho.

Também me encantam os brilhos nos olhos adultos, com conquistas cotidianas, simples ou aquelas desejadas e esperadas durante longo tempo.

Aquele brilho ávido pela vida, por tudo que ainda está por vir, o brilho de fé, esperança e desejo. Vivo a reparar o sorriso que acompanha, quando pergunto a alguém o que te brilha os olhos?

A imensidão, a intensidade e a profundidade do sentimento bom, que invade a gente sempre que o amor ou a alegria nos invadem ou o brilho nos olhos ávido pela luta, ao indignar-se com quaisquer injustiças ou desigualdades.

Há de termos brilho nos olhos para que possamos viver e lutar e amar!

Que o medo, a apatia e a insegurança não nos tirem o brilho dos olhos, andemos.

Que tenhamos mãos em nossas mãos a aquecer o coração e brilhar os olhos!

AS MÃES, Por Milene Mizuta

Quando nasce uma mãe, nasce um processo de desumanização.

A sociedade transforma alguém comum em algo sobre-humano, servitude, resignação, exaustão, solidão.

Nada do que uma mãe faça é reconhecido, elogiado, visto como façanha, remunerado.

É um desdém, um descaso, é uma obrigação, é o que se deve.

Por fim no meio dessa magnitude de miséria que dedicam a um ser solitário na calada do seu lar, existe um algo, um silêncio, existe um olhar profundo pro mundo das graças, existe o filho.

O filho e sua mãe que por ventura, e por estarem arredados de tudo que um círculo social permite, criam em si, um lugar, um habito, um clã, uma tribo inteira.

De visceralidades e vissitudes, crescem, dormem, se alimentam e choram.

No fim do dia, no final dos tempos quando aqueles que a sociedade apartou, mãe e filho, voltam a ver o sol com permissão, existe entre eles um laço, um algo, construído na falta, tão inquebrantável que se maculado é como romper a coluna da verticalidade da existência.

Por aragem, se amarão;

Por revés, se odiarão.

De mãe o que eu sei é amor, por sorte e trabalho eu amei e me amaram.

Meus filhos da solidão, da exaustão, meus filhos que juntos araram o campo árido de uma sociedade que ainda não entendeu, que filho é tarefa comunitária, social, tribal, e seguem “miseriando” a vida de quem pari.

Se pudesse, eu juro, daria leite no peito pra todas que um dia fizeram a continuidade da vida existir, daria pra mim mesmo, diria com afeto e afinco pra mim e pra vocês:

“O nome disso é trabalho, e é por ele que a história do mundo prossegue.

Toda história do mundo é fruto do trabalho de uma mulher.”

Obrigada, mães.