Vou contar uma história feita de gente de verdade que existe no mundo real. Como pode ser uma história? Porque não chamamos de História? Simplesmente porque História requer fatos reais que se interligam de forma lógica e cronológica, e nossa vida não se faz assim, a nossa vida se faz de fatos que estão fora da lógica, do entendimento, da realidade sensorial.
Por trás de cada fato, existe um mundo de conto de fadas que ignoramos e transformamos nossa vida em um amontado de fotografias sem tridimensionalidade, não colocamos cor nem movimento, e na história, pode tudo e nesse texto eu quero poder tudo…
Era uma vez Romeu, menino que tinha um olhar profundo, nasceu em uma casa de forma retangular, com grandes escadas que se conectavam a muitos quartos de cor branca, com uma mobília muito bem organizada. As pessoas da casa de Romeu se encontravam somente nos corredores e juntas se destinavam a algum lugar onde algo deveria ser feito, tudo era muito organizado na vida de Romeu. Na cidade de onde ele veio era sempre inverno, flocos de neve caiam todos os dias e a paisagem era sempre alva, cortada por árvores sem folhas com troncos negros que ramificavam em mil vertentes e afinavam em suas pontas até quase desaparecerem. As grandes janelas da casa de Romeu iam do chão até o teto e a limpeza era tão impecável que era possível ver tudo ao redor. Tudo funcionava em perfeita ordem ao redor de Romeu. A brincadeira predileta de Romeu era sair pela porta e se afundar até o pescoço na fria neve, olhar para o céu e contar todos os flocos que caiam em direção ao seu nariz. Romeu era feliz, sempre existia neve, sempre haviam flocos a serem contados.
Era uma vez Julieta, menina cega. E por ser cega seus pais almofadaram toda a casa para que ela não se machucasse, na casa de Julieta tudo era redondo, nada tinha pontas, não haviam escadas, somente uma grande sala com tapetes e almofadas. As pessoas da casa de Julieta tinham muito medo que ela se machucasse. Por isso, abriram grandes janelas que não tinham vidros, e ela ficava sentada no meio dessa sala e sentia em seu rosto o ambiente externo que invadia tudo. Julieta nasceu em um lugar onde sempre era sol, com vento morno e árvores que davam frutas em abundância, enchendo a casa de fragrância. Chovia muito todos os dias e em seguida abria-se um lindo sol, que queimava até a mais negra pele. Julieta não sabia como era o mundo, por isso sua brincadeira predileta era girar em torno daquela sala almofadada e se jogar em algum canto sentindo o macio de algo que a aconchegava.
Romeu e Julieta cresceram… E de tanto se afundar na neve alva, Romeu criou um cabeça de gelo. E de tanto girar no calor, Julieta criou um coração de vento. Romeu ordenava coisas, com sua cabeça de gelo e as congelava com seu olhar profundo, guardando-as em uma caixa, nessa caixa tudo tinha um nome, um lugar e um significado, dentro dela deveriam se manter para sempre.
Julieta bagunçava coisas, com seu coração de vento, girava tão forte que fazia grandes furacões em sua casa afastando todos de perto. Julieta não encontrava mais suas coisas e não podia mais pentear seu próprio cabelo que se tornou um grande emaranhado no topo de sua cabeça e deixou de mostrar seu lindo rosto que tinha bochechas de cor carmim…
Julieta e Romeu continuam a viver em seus reinos, mas no meio disso tudo surgiu um ser mágico capaz de fazer com o que os dois se encontrassem, aquecendo o pensamento frio de Romeu e ordenando a profunda confusão de Julieta. O nome desse personagem é Ser Humano.
Em nossa cabeça vive o Romeu, que vê a vida de forma alva, conta flocos de neve, e que vive em um lugar ordenado e claro, envolto a um líquido transparente nosso cérebro é nossa janela para o mundo. Esfria coisas, ordena fatos, organiza e explica o que se passa ao nosso redor. Nosso Romeu, questiona, diferencia, nosso Romeu, pensa. Em nosso sistema rítmico, em nosso coração, vive Julieta, que roda infinitas vezes em seu próprio eixo, nos confunde, não enxerga, é redonda, aquecida, confortável, colorida. Julieta roda para qualquer lugar e não se sabe para onde vai. Nossa Julieta, sente.
E todos os dias vivemos um conto Shakespeariano dentro de nós. Entre encontros e desencontros de Romeu e Julieta, ao final do dia temos o sentimento que algo que deveria surgir do mais idealizado amor, morreu. Romeu nos faz congelar nossas emoções tornando-as conceitos lógicos, tentando concatenar uma sequência lógica de fatos que façam sentido. Romeu joga neve branca no que é colorido, e nos afunda em uma neve fria e alva, fazendo o sentimento gelar. E como consequência disso, eu me torno frio e pontudo, machuco, julgo, separo, segrego, explico e entendo.
Julieta nos faz temer nossos atos, pede excessiva segurança e faz o nosso pensamento se tornar algo tão confuso, mas tão confuso que nos sentimos dentro de um tornado, somos jogados por todos os lados, perdendo nossas certezas e não observando a vida como ela realmente é. E como consequência disso, eu me desespero, peço aceitação constante, meus olhos cegam, meus sentimentos explodem e me queimam como brasa, jogando fogo para todos que estão ao meu redor.
Mas existem momentos em que Romeu e Julieta realmente se encontram, quando isso acontece, Romeu entrega para Julieta uma luneta mágica do qual ela vê estrelas e consegue contá-las, e Julieta entrega para Romeu uma pele de lã de carneiro que colocada ao redor do seu ombro, aquece seu coração e desmancha as finas camadas de gelo.
E, como consequência disso, chega aos meus olhos a verdade, o mundo como ele é, tridimensional, com todos os lados de uma mesma coisa e ainda com o colorido que só o coração pode dar. Quando aquilo que eu penso conecta – se ao que sinto, mágicas acontecem, eu sou capaz de dizer não quando necessário sem medo de não ser aceito, digo sim com amor sem me sentir lesado, abro mão e me sacrifico entendendo que aquilo é necessário, aceito e respeito minhas escolhas e as escolhas do outro, largo o controle, entro no fluxo, falo o que sinto, acolho o que o outro sente, aprendo a amar meu irmão, confio com o coração na minha lógica, que nasce a partir das minhas vivências, não explico, compreendo.
E toda e qualquer tipo de ação que nasce desse encontro de amor, faz germinar na terra ações que crescem fortes como as árvores de Romeu com flores e cores do mundo de Julieta. Dentro do meu conto de fadas, o final sempre é feliz, porque a felicidade está em compreender aquilo que se vive e confiar no porvir. Dentro da nossa alma existe um palco, onde Romeu e Julieta se encontram todos os dias, abrem-se as cortinas e o espetáculo se faz do amanhecer ao anoitecer, esses dois personagens, pedem incessantemente que eu como Homem Moderno, aqueça meus pensamentos e disso faça surgir a moral humana, aquela que regula e equilibra as boas ações no mundo. Pensar com o coração, me faz começar algo com certeza e terminar algo com dignidade, integra intelecto e índole, o pensar com o coração criou a música uma escala lógica e cadenciada de notas que quando tocadas de forma harmônica volta para o coração e enche nosso peito. Essa é a vivência do aprendizado, quando eu faço aquilo que está em conexão com o que penso e sinto, minha ação torna-se assertiva no mundo e quando volta para meu peito, toca profundamente minha alma, colore meu dia e em minha cabeça fica gravada a mais linda memória que jamais vou esquecer. E diante de meus olhos surge uma linda porta de vidro vinda da casa de Romeu, pronta para ser aberta, que vai chegar em um caminho florido e cheio de cores vindo do mundo de Julieta.
Às vezes a porta vai ser demasiada pesada, então temos que lembrar que além dela existem árvores frondosas com cheiro de frutas, as vezes o vento vai ser demasiado revolvo, então temos que lembrar que existe uma porta de vidro segura onde sempre poderemos nos abrigar. Em nós vive o mundo. E nada do que venha ao nosso encontro seremos incapazes de suportar, a não ser a dor de passar por uma vida com Julieta e Romeu perdidos dentro de nossos medos.
Confia Romeu, compreende Julieta e dessa ordem vai nascer a força do sol no mundo, o amor. Quer entender mais sobre isso tudo? No Líder de Si a gente ensina para vocês!