IRMANDADE, Por Milene Mizuta

Ontem foi aniversário do meu irmão e eu não consegui escrever.

Dada a complexidade desse vínculo compulsório que nos é dado por esse fado.

Quando escuto irmandade, imediatamente me remonta a minha relação com meu irmão; irmandade é o primeiro lugar dessa vida que te bota defronte com a disputa de poder.

No seio da família cada qual galga seu lugar, estabelece seu papel, performa sua existência com aquilo que reluz e opaca.

Creio que quando almejamos viver num mundo onde somos todos irmãs e irmãos entendo assim, esse vínculo inquebrável e arqueável que por um elemento que é o que corre em nossas veias disputa-se, mas não se destrói.

Meu irmão sempre reluziu dentro das quatros paredes da linhagem, passou miúdo fora delas, eu o contrário, fiz sombra em demasia dentro e reluzi grande fora.

Luzes e sombras em oposição, por si, tensão.

O vínculo de irmão não é confortável, é o coliseu da existência, onde os “Cesares” da casa, deliberam em alternância quem vive e quem morre.

Por isso a profundidade do laço, ser irmão é sobreviver ao espaço que se coloca pra ser ocupado sem que ódio domine, sem que a ira mate.

Não se mata irmão, nem dentro. Irmandade é por essência igualdade, os iguais que na encenação do viver ocupam papéis dados pelas expectativa dos diretores, mas na essência do fundo do mundo, irmãos são artistas de pés descalços na rua da origem.

Um dia quem redigiu os papéis vai pra coxia e você descobre enquanto retira a maquiagem, que sua existência dependeu da dele, nunca existiria dramaturgia sem com quem contracenar.

Muito do que foi Danilo me fez Milene.

E amando ser Milene carrego a licença me de amar Danilo.

Amar o que ele é, as vezes do que ele foi, aquilo que ele será.

Ainda hoje, e para todo meu sempre, enquanto ele não desistir de acordar Danilo, eu também me levantarei Milene.

Te amo.

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