A lógica do amor é a não lógica.
Indução, dedução, inferência, hipótese, ou tudo que visa à determinação do verdadeiro ou não, não se aplica ao amar.
O amor, produto do conjunto de vivências que advêm do ato de amar, é criado pelo elemento único e não subtraível, que é o empírico, a prática.
Pratica-se o amar,
erra-se ao amar,
dana-se ao amar,
alegra-se ao amar.
O ato de amar não pressupõe vitória, nem tampouco acerto, subverte a lógica da causa e efeito, não tem ganho. O ato de amar é exercício e processo, que tem variáveis infinitas que nunca são controláveis.
Amor não é prêmio, assim como amar não é jogo.
A força do amor está em ser capaz de sair da abstração e tornar-se feito coisa entre nós.
A prática do amar impulsiona a vida, o que já indica sua visceral necessidade.
Mas o amor é, como demanda sua grandiosidade, dúbio, imatéria e substância.
O amor da imatéria é a essência da existência da dignidade humana, é o veículo transportador do tempo, a continuidade dos mundos, é o motivo da vida.
O amor da substância é um existir em realidade a partir da imatéria, é ato. E, por vezes — se não por sempre —, revolucionário.
Mas amor não é artefato de mudança, ferramenta de transformação, nem ao menos recurso de barganha para prova da existência.
Ninguém muda por amor, ninguém se transforma por amor. O amor não serve à nossa vil necessidade de transformação.
Ninguém muda por amor, jamais mudará. O amor não supera o sintoma.
O sintoma é uma forma indizível de falar, é uma forma singular de existir, é para onde o indivíduo foge quando não restou nada.
Sintoma não pressupõe mudança. Sintoma é um convite pessoal e intransferível à autoria. A autoria de tomar propriedade da própria vida é o que reescreve o sintoma e, por sua vez, reescreve a vida.
O amor não é lógico e, por não habitar esse espaço, não é capaz de produzir resultados.
O amor é um címbalo que retine no profundo da alma para que o compasso do mundo possa haver.
O sintoma é o jeito de viver que não constrói o caminho para que o amor deixe o imaterial e habite a substância.
Para habitar a substância e sentar-se à mesa, o amor precisa de um caminho de trabalho que o sintoma impede.
Amor vivido é amor que desencontrou do sintoma.
A potência do amor é construtiva, e o que reescreve o sintoma é a capacidade desconstrutiva de debruçar-se em si para o trabalho que materializa o amor poder existir.
Não se muda por amor, embora, creio eu, que aquele que leva o amor como filosofia da existência compreenda que não se pode viver sem ele e, a partir disso, entenda que a autoria da ressignificação de um sintoma deve existir para que ele possa permitir a existência do amor.
O amor não supera o sintoma. Deixe de crer que alguém mudará por amor para que você possa perceber que o amor existe, e que a prova disso é sua existência, e não a existência de alguém.